quinta-feira, 4 de julho de 2013

UMA NOITE NA LUA de João Falcão com Gregorio Duvivier


UMA NOITE NA LUA
Agraciado com o 7º Prêmio APTR de Teatro, o espetáculo ‘Uma Noite na Lua’ celebra parceria de João Falcão e Gregorio Duvivier.
O criador do celebrado Porta dos Fundos chega a Porto Alegre nos dias 22 e 23 de agosto, no Theatro São Pedro.





Como é que se começa um release? Com o título, claro. Mas e depois? Talvez seja bom falar de algum prêmio que o espetáculo ganhou. Mas e depois? Como fazer um release tradicional de uma peça tão pouco tradicional? Como fazer um release quando você não estudou jornalismo e é só um ator que está fazendo um monólogo e não confia em ninguém pra escrever o release?
Aqui quem voz escreve é o Gregório. E eu não sei como se escreve um release. Certamente não é dessa maneira que eu estou escrevendo. Então espero que não estranhem. Vou falar um pouco sobre a peça. Ou melhor: sobre o que eu acho da peça.
O gênero do espetáculo é híbrido. Não se sabe ao certo se é uma comédia com momentos tristes ou um drama cheio de humor. Talvez o termo correto seja "epopéia lírica-sentimental". Mas é um termo pomposo demais. Talvez seja melhor dizer: é como aquelas músicas sobre dor-de-corno. Mas aí é pomposo de menos. É mais fácil falar sobre o que fala a peça. Fala de um homem, em cima de um palco, pensando. Tudo o que ele pensa, ele fala. E a peça é o pensamento dele.
Sobre o João Falcão: nunca vi um artista tão infalível. Suas peças são dramaturgicamente perfeitas. Tanto é que ele já ganhou toda sorte de prêmios como autor: Shell, Sharp, Mambembe, Qualidade Brasil. E as peças dele costumam ficar anos em cartaz, arrebatando público e crítica. Uma Noite na Lua levou o prêmio Sharp de Melhor Texto e o APCA de Melhor Ator para o Nanini, para quem a peça foi escrita, e com quem ela ficou três anos em cartaz. Sobre a peça, João diz: "É o texto mais auto biográfico que já escrevi. Não em relação à história, mas aos sentimentos. Todos os sentimentos que estão ali eu já senti." A peça fala sobre um autor, sobre criatividade, mas também sobre amor, e sobre solidão. Mesmo quem não escreve se identifica porque ama, ou já amou. E quem não escreve e nem nunca amou ninguém? Aí não se identifica. Mas aí também é um tipo de gente que não nos interessa.
Pessoalmente, vos garanto: é o texto mais perfeito que eu ja li. Não trocaria uma palavra, uma vírgula, um ponto. A peça fala da solidão de um autor obsessivo. Abandonado pela mulher amada, ele tem que escrever uma peça que faça ela voltar. Mas a obsessão pela mulher o impede de pensar na peça. Aos poucos vamos vendo que a peça que estamos assistindo é a peça que ele está escrevendo, num jogo infinito de espelhos. Voltando às palavras de João: "A peça fala sobre uma coisa que todo mundo sente. Desejo de ser amado. E até onde isso pode levar."
Para essa montagem, João optou por uma encenação nua, crua e espartana. Não há nada sobre o palco. Nada além do ator. É uma caixa preta. Essa caixa se revela ora casa do ator ora a cabeça do ator ora a lua, onde o autor passa as noites. "Queria uma encenação econômica, diz João, o ator desapoiado de cenarios, cadeiras ou praticáveis, sem caminhadas, nada." Durante toda a peça, o ator quase não sai do metro quadrado central. E dentro dele, tudo acontece. Maximizam-se as possibilidades cênicas de um espaço restrito, localizando o ator dentro desse não-lugar que é o lugar do pensamento. 
Para contracenar com o ator (ou sobre mim - ainda não decidi que pronome usar), foi desenhado um jogo de luz impressionante, criado pelo próprio João: toda a iluminação da peça é feita por moving lights, que, como o nome indica, são luzes móveis, que não param quietas. Muito comuns em shows de música, o uso no teatro ainda é raro. A mobilidade constante da luz faz com que ela se torne, nessa peça, muito mais que luz. Ela é cenário, trilha sonora e mil personagens. Ela esvazia o palco quando é preciso e o povoa em uma fração de segundo quando é preciso. Merecia um prêmio de melhor atriz coadjuvante, no mínimo.
A trilha, também composta pelo próprio João, foi gravada e arranjada pelos músicos Dani Black e Maycon Ananias. Ambos são oriundos da talentosíssima nova safra de compositores paulistanos. Dani pertencia ao grupo 5 a seco e agora brilha em carreira solo. Maycon é pianista clássico e produtor musical da cantora Maria Gadu. A trilha de Uma Noite na Lua foi gravada em Buenos Aires, quase integralmente gravada com cordas de todos os tipos: violão, violoncelo, violino e contrabaixo.
O processo de ensaios foi muito prazeroso. Alugamos uma casa e nos trancamos por um tempo. Éramos poucos a ensaiar: João, seu assistente João Vancini, eu e os músicos (toda a trilha foi composta para que coubesse no tempo exato das falas, e não o contrário). Mas também foi infinitamente árduo. Durante os meses que antecederam o espetáculo, fiz, a pedido do João, uma intensa preparação corporal com o acrobata e palhaço Gilvan Gomes, do AfroCirco. Foram meses de acrocacia solo, aérea e malabares. Embora a peça não lance mão, diretamente, de nenhum desses recursos circenses, foi fundamental para buscar a disponibilidade, flexibilidade e o equilíbrio necessários. E, a parte mais difícil, para mim, não foram os malabares, nem o monociclo (sim, eu aprendi a andar de monociclo), mas o próprio texto. O texto do João é cíclico e labiríntico, é muito fácil de se perder. Nunca lidei com um texto tão difícil de decorar. Para mim é especialmente difícil, porque a minha formação como ator é o improviso. Não costumo decorar os textos. Em geral decoro aproximadamente e falo o texto da maneira que ele surge na hora. Mas não dá pra enganar o João falando um texto aproximado: ele sabe de cor, muito melhor que eu (e nem seria uma boa idéia mudar um texto tão impecável). São 34 páginas, que resultam em 60 minutos de texto ininterrupto. Sim, a peça tem uma hora cravada. Nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. Sobre o ator que faz a peça, João falou: "Gregório é o ator que todo diretor pediria a Deus se todo diretor fosse feito eu." Mas acho que só disse isso porque eu estava apontando um revólver para a sua cabeça.
No momento em que eu escrevo esse "release", faz um ano que a peça estreou. De lá pra cá, tudo mudou. A peça tem feito uma turnê linda pelo Brasil e arrancado elogios e críticas maravilhosas Em Agosto de 2012, fundamos a Porta dos Fundos, que hoje é o maior canal de humor do Brasil e um dos maiores do mundo. Ganhamos o APCA de melhor programa de humor da televisão, mesmo nunca tendo passado na televisão. O filme Vai que Dá Certo foi um sucesso tremendo de bilheteria. Parece que tudo está dando certo. E tenho certeza de que a peça tem a ver com isso.
A verdade é essa: nunca fui tão feliz fazendo uma peça. Amo fazer peças com grandes elencos. O Tablado, escola de teatro que eu frequentei por 10 anos, é famoso por fazer peças com elencos gigantescos. E lá também eu fui muito feliz. No entanto, nada se iguala à alegria de subir no palco sozinho, contar uma história desprovida de pirotecnias e ainda assim fazer rir e emocionar. Isso é um ponto importante para mim: nunca antes tinha feito chorar (ao menos não propositalmente). E fazer chorar é tão lindo quanto fazer rir. Os dois juntos, então, é o que mais me faz rir. E chorar. Toda noite que eu passo na lua eu choro de felicidade e paixão pelo teatro. Obrigado, João!
 Sobre João Falcão
Depois de iniciar a carreira no Recife no início dos anos 80, o diretor e autor teatral João Falcão fez do Rio de Janeiro sua casa: na cidade, na década de 90, estreou o musical infantil ‘A Ver Estrelas’. A partir dele, enfileirou um número considerável de peças de sucesso, entre adaptações, textos de sua autoria e direções, entre eles ‘O Burguês Ridículo’, ‘A Dona da História’; ‘Uma Noite na Lua’; ‘A Máquina’; ‘Mamãe Não Pode Saber’; ‘Ensina-me a Viver’ e, mais recentemente, ‘Clandestinos’. Sua incursão como diretor no cinema rendeu dois longas-metragens: adaptação para a peça ‘A Máquina’ e ‘Fica Comigo Esta Noite’. Na TV, firmou parcerias com o diretor Guel Arraes, caso de ‘O Auto da Compadecida’, além de trabalhos como ‘Clandestinos – O Sonho Começou’ e ‘Louco por Elas’.
Sobre Gregorio Duvivier
Gregorio Duvivier nasceu no Rio de Janeiro, no dia 11 de abril de 1986. Começou a fazer teatro no Tablado, onde fez aulas por 10 anos. Aos 17, estreou a peça Z.É. - Zenas Emprovisadas, ao lado de Fernando Caruso, Marcelo Adnet e Rafael Queiroga. A peça, uma maratona de improvisação, levou o prêmio Shell de Teatro e ficou em cartaz por 10 anos. Durante esse tempo, Gregorio atuou em uma dezena de filmes (PodeCrer, Apenas o Fim, À Deriva, Vai Que Dá Certo, 5 Vezes Favela) e uma dúzia de peças (o Lobo da Estepe, Inbox, Como Vencer na Vida Sem Fazer Força). Escreveu em parceria com Clarice Falcão a peça Inbox, indicada aos prêmios Questão de Crítica e APTR de Melhor Texto. Também em parceria com ela, escreveu para os seriados Louco Por Elas, As Cariocas e As Brasileiras, além do seriado O Fantástico Mundo de Gregorio, para o Multishow. É integrante e co-criador do canal Porta dos Fundos, APCA de Melhor Programa de Humor de 2012. No mesmo ano, estreou o monólogo Uma Noite na Lua e ganhou o prêmio APTR de Melhor Ator. Gregorio é formado em Letras pela PUC-Rio.




“João Falcão torna a sua “Uma noite na lua” divertida, fascinante, melancólica, um exemplar excepcional da nova dramaturgia brasileira.”
“Uma noite na lua” tem agora uma nova montagem de alta categoria, uma noite de teatro de alta qualidade.” 
“Dirigido pelo autor, Gregório Duvivier foi guiado para ter uma atuação precisa, que consegue transmitir o caos interno do protagonista sem exageros, buscando a todo momento a verdade daquela crise...”
Bárbara Heliodora, O Globo, 7 de junho de 2012


Sinopse de ‘Uma Noite na Lua’:
Escritor sem um único título de sua autoria luta para enfim terminar uma peça sobre um homem solitário que processa suas ideias em cima de um palco e vive às turras com a recordação de Berenice, sua ex-mulher.


Ficha Técnica:
Dramaturgia, canção original, iluminação e direção geral: João Falcão
Ator: Gregório Duvivier
Direção Musical: Dani Black e Maycon Ananias
Direção de produção: Roberta Brisson
Programação de Luz: Cesar Ramires
Técnico de som: Branco Ferreira
Figurino: Hugo Leão
Consultoria de produção: Jô Abdu
Ass. de Imprensa: Smart Mídia Com. - André Gomes
Programador visual - Júlia Coelho
Preparador corporal - Gilvan Gomes
Assistente de direção: João Vancini
Realização: Branco Produções



THEATRO SÃO PEDRO (Pça. Mal. Deodoro, s/nº)
DIAS 22 E 23 DE AGOSTO – Quinta e Sexta
21 HORAS
INGRESSOS À VENDA NO LOCAL, À PARTIR DO DIA 15 DE JULHO.
Platéias = R$ 80,00
Camarotes Centrais e Foyer= R$ 60,00
Camarotes Laterais = R$ 50,00

Galerias = R$ 30,00

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